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sexta-feira, 18 de março de 2011

Direto do Japão: Avaliação do Nissan Moco (modelo 2010)


Quando se pensa em carro japonês, a imagem que vem na cabeça de muitas pessoas no Brasil é dos carros com fama de robustos e inquebráveis – imagem hoje arranhada pelos infindáveis recalls anunciados quase todo mês (no caso dos Toyota e Honda). Outros lembram dos saudosos esportivos da década de 90, quando quase todas as marcas japonesas tinham o seu – pelo menos uns 3 modelos de cada fabricante, hoje em dia no mercado nipônico eles não passam de 6 ou 7 modelos no geral e diminuindo cada vez mais (com a recente notícia do fim de produção do Lancer Evolution X).

E os mais jovens citam os atualmente famosos híbridos e elétricos como o Toyota Prius e Nissan Leaf. Mas poucos se lembram dos mini carros japoneses, popularmente chamados de kei cars, kei jidousha ou simplesmente “kei” – também pode ser apelidado de “chapa amarela” na gíria popular entre os brasileiros que vivem no Japão. São carros que praticamente fazem parte da cultura japonesa, como o sushi na culinária e o sumô nos esportes.

Os pequeninos automóveis nasceram na década de 50 e foram os responsáveis pela motorização (junto com a moto Honda Super Cub) e industrialização do país que foi arrasado pela 2ª guerra mundial. Usufruem de benefícios concedidos pelo governo japonês, como impostos e pedágios mais baratos (até multas, dependendo da infração), seguro mais em conta e geralmente não necessitam que o proprietário do carro comprove que tenha uma vaga para guardá-lo.

Possuem uma gama de modelos muito diversificada, que vai desde pequenas picapes e vans de carga (kei truck e kei van) até mini-esportivos (Daihatsu Copen) e valentes 4×4 (Suzuki Jimny), mas são as pequenas minivans tipo “tall wagon” e os hatches que se destacam nas vendas. A maioria dos brasileiros que moram (ou moraram) no Japão já teve um carrinho desse (ou atualmente tem um, como eu), devido ao custo muito baixo para mantê-lo.

No início dos anos 2000 a Nissan era a única marca japonesa que não tinha um kei no seu catálogo de produtos (como a Toyota é acionista majoritária da Daihatsu desde 1999, pode se considerar que esta empresa é a divisão de kei cars da Toyota) e precisava urgentemente aumentar suas vendas, já que havia perdido o 2º lugar no mercado japonês para a Honda. Como o tempo era escasso e o dinheiro em caixa estava em baixa, foi feito um acordo comercial com a Suzuki – e posteriormente com a Mitsubishi.

Os kei cars da Nissan são comercializados no sistema OEM (original equipment manufacturer), onde ela compra os carros das marcas parceiras e os revende como Nissan. Não necessitando nenhuma fusão ou participação acionária com as mesmas. Um negócio que é bom para ambas as partes, pois não é preciso projetar do zero um modelo (Nissan) e ao mesmo tempo aumenta o faturamento (Suzuki e Mitsubishi). No japão é muito comum um modelo de carro ter 2 ou 3 marcas diferentes – na maioria dos casos kei e veículos comerciais.


Em 2002 foi lançado o primeiro kei car da Nissan, o Moco. De nome estranho – derivado da gíria japonesa “moco-moco”, significa algo “bonitinho, agradável e caloroso” A Nissan diz que é em alusão ao seu desenho externo e interno… Ele era basicamente um Suzuki MR Wagon com a grade, para-choque dianteiro, emblemas trocados e acabamento interno diferente. E agradou em cheio os clientes Nissan que precisavam de um carrinho compacto e barato de manter mas não queriam mudar de marca.

Em 2006 ele mudou totalmente. Bem mais arredondado e com uma altura maior, ele conquistou o público feminino e se tornou o kei mais vendido da empresa – que hoje possui 7 modelos nesta categoria. Foi tão bem aceito que vendeu mais do que o carro que lhe deu origem – um fato raro no caso de carros com emblemas trocados, onde geralmente o modelo original vende bem mais. No mês passado nasceu a 3ª geração, sempre baseado no kei car da Suzuki e de desenho bem estranho por fora mas com o interior mais moderno e espaçoso.

O Moco avaliado é um da 2ª geração ano 2010. Um modelo recém-saído de linha, mas que serve perfeitamente para mostrar aos leitores do NA como são os kei cars, carros que provocam a curiosidade de muitos quando um post sobre eles é publicado. Como algumas pessoas sabem, são carros com um tamanho padrão de 3.40 m de comprimento, 1.48 m de largura, no máximo 2 m de altura e capacidade máxima para 4 pessoas.

A cilindrada e a potência do motor são limitados em 660cm³ e 64 cv respectivamente. Diante dessas imposições, a palavra-chave no projeto desses carrinhos é aproveitamento de espaço e de rendimento do motor ao máximo, deixando a beleza em segundo plano. E por isso o pequenino Nissan é um bom exemplo.

Uma boa parte dos kei cars possui um desenho que parece ter sido inspirado nos monstrinhos do Pokémon e o Moco não foge à regra. Com um desenho estranho para os brasileiros (muitos vão dizer que é feio mesmo…) mas absolutamente normal por aqui, ele agradou as mulheres por causa das suas formas suaves e arredondadas, interior bem cuidado e também pela variedade de cores bem femininas, como pode-se perceber pela cor azul calcinha do modelo das fotos.

Por ser a versão básica (S), ele não possui as colunas A, B e os arcos das janelas pintados em preto disponíveis no modelo mais caro, deixando-o com um aspecto bem simples. Pessoalmente acho essa geração mais bonita que a nova, que ficou com o visual “bagunçado” e desarmônico.

Por dentro ele é um carro bem espaçoso e confortável. E com certeza esse é um dos motivos do design controverso. Claro que não chega a ser como o Daihatsu Tanto ou o Suzuki Palette, que são referência quando o assunto é espaço interno na categoria (e eles pagam por isso com o seu desenho de gosto mais duvidoso ainda…) mas o Nissan abriga sem apertos os 4 ocupantes.

Mesmo com os bancos dianteiros totalmente recuados, ainda sobra muito espaço para pernas atrás (apesar do entre-eixos de 2.36m) e como a cabine é alta, a cabeça tem um bom vão livre. É mais confortável do que muito carro grande por aí. Na frente dirige-se como se estivesse vendo TV sentado no sofá de casa, posição ajudada pela altura dos assentos inteiriços e pelo apoia-braço central. E pelo fato da alavanca do câmbio ficar no painel, o Moco é um carro muito bom para namorar… Inclusive seus asssentos podem se transformar em cama. O porta-malas tem capacidade suficiente para as compras do dia a dia – porém quando se abaixa os bancos traseiros a área aumenta consideravelmente.

O que mais agrada é o acabamento interno, apesar do revestimento dos bancos terem uma cor chamativa, eles possuem uma textura muito agradável ao toque e todos os assentos tem regulagem de distância e inclinação do encosto. Os plásticos utilizados são de qualidade e com encaixes precisos. Além disso a tonalidade clara do interior aumenta a sensação de espaço.

Há vários porta-objetos espalhados pelo painel – inclusive uma pequenina mesa no lado do passageiro. Os porta-copos ficam nas extremidades. Um detalhe interessante é o espaçoso compartimento abaixo do banco do carona, perfeito para guardar as bolsas e sapatos das mulheres. O ponto negativo fica para o quadro de instrumentos. Como a maioria dos kei sem turbo, possui apenas um enorme velocímetro com um display digital que serve de indicador de marcha, odômetro (com indicador de consumo) e marcador de combustível, além das luzes espia. Passa uma enorme sensação de simplicidade – mas como é um carro feito para as japonesas, certamente elas não fazem questão de um conta-giros num veículo automático.

O motor de 658 cm³ é o tradicional K6A de 3 cilindros e 12 válvulas, comum á praticamente toda a linha de kei da Suzuki. Tem 17 anos de mercado e vários aperfeiçoamentos ao longo do tempo, é um propulsor bastante confiável e ainda relativamente moderno (mas já está sendo substituído pelo R06A, que estreou no MR Wagon/Moco 2011). Possui duplo comando de válvulas e VVT, gerando 54 cv e torque máximo de 6.4 kgfm. O Moco atinge 125 km/h e acelera de 0 a 100 km/h em torno de 25 seg.

Seu desempenho é bom nas cidades japonesas, devido ao baixo limite de velocidade permitido nelas (entre 30 e 50 km/h em vias urbanas). O carro acelera bem até os 70 km/h mas depois disso o rendimento cai consideravelmente. Por isso não é recomendável fazer viagens longas, pois a falta de potência torna o passeio cansativo. Equipado com uma transmissão automática de 4 marchas (3 + overdrive), que ajuda a reduzir o nível de ruído mantendo o giro baixo na cidade, mas fazendo muitas reduções de marcha à mínima necessidade de potência, gerando um certo incômodo – deve ser por isso que o novo Moco 2011 vem equipado com CVT, que também o ajuda a beber menos combustível ainda. Por falar nisso, o consumo médio informado pela Nissan é de 22 km/l, um número até realista pois durante a curta avaliação o medidor de consumo do painel marcava em torno de 20km/l.

Para baratear a produção dos seus kei cars, a Suzuki adota uma única plataforma para praticamente todos os seus carros (com exceção do Jimny e dos utilitários). Sendo assim, componentes de direção, suspensão e freios são todos semelhantes entre os seus carros de passeio. As suspensões do Moco são as simples Mac Pherson na frente e I.T.L atrás – sigla de Isolated Trailing Link, uma variação do tradicional sistema de braço arrastado, patenteado pela Suzuki.

Dinamicamente é um carro bem resolvido, com uma boa estabilidade na cidade – porém sofre com ventos laterais na estrada, devido a altura. Como todo kei car, é um carro fácil de dirigir e percorre facilmente as apertadas ruas japonesas. A direção tem um ótimo diâmetro de giro e por causa da assistência elétrica é bastante leve e ajuda muito os braços das mulheres nas manobras. E os freios são muito eficientes, com ABS e brake assist (parecem até superdimensionados). Completando o pacote de segurança, airbags duplos de série.

O modelo 2010 do Nissan Moco era vendido em duas versões – S e E, motorização única e com opção de tração integral. Custava entre ¥ 1.058.400 ou R$ 21.300,00 (S) e ¥ 1.254.750 ou R$ 25.290,00 (E Four). No concorrido mercado japonês dos kei cars, o Moco ficou em 9º lugar em vendas, com 4.247 unidades vendidas – dados de janeiro, quando o modelo 2010 ainda era vendido (como comparação, o Suzuki MR Wagon vendeu 3.230 unidades no mesmo período). Mas bem longe do líder Daihatsu Move com suas 14.209 unidades vendidas.

O motivo para tal diferença é que o Nissan é vendido quase que exclusivamente para as mulheres, enquanto o modelo da Daihatsu atende uma faixa bem mais ampla de consumidores. Com o Moco, a Nissan conseguiu mostrar aos concorrentes (ainda que com a ajuda da Suzuki) que pode vender um carro prático, espaçoso, bem acabado e de desempenho adequado ao trânsito urbano por um preço acessível. Mesmo sem produzir um modelo próprio de kei, a Nissan conseguiu ultrapassar a Honda nesse concorrido segmento – e está em 3º lugar, dando o troco pelo posto perdido para a rival no mercado de carros de passeio comuns.

No início da década de 90 o Brasil também já teve seus kei cars. Poucos se lembram, mas Subaru Vivio, Daihatsu Cuore (este com motor de 800 cm³) e os utilitários Towner da falida Asia motors (que eram projetos do kei truck e van da Daihatsu e usavam um motor de 800 cm³ também) foram os representantes dessa categoria de veículos mas foram sucumbidos pelo preço alto, tanto do carro quanto da manutenção – no caso dos japoneses, e pela faléncia da coreana por causa da crise asiática.

Na época, um importante executivo da indústria automobilística nacional chegou a afirmar que esses carrinhos “nunca dariam certo no mercado brasileiro porque o povo não compra carro menor que o Gol…” Mas os tempos mudaram e hoje no Brasil temos os pequenos utilitários chineses da Chana, o criticado Effa M100, o Chery QQ – que será lançado em breve, além do coreano Kia Picanto e a expectativa de que mais modelos virão da China e Coréia. Todos com um porte um pouco maior que os kei japoneses mas certamente menores que o líder de vendas da VW…

Diante desse cenário, será que os simpáticos carrinhos japoneses dariam certo no mercado brasileiro? Dê a sua opinião!

Ficha técnica – Nissan Moco S 2WD (MG22S)
Quilometragem do carro avaliado: 5.508 km
Dimensões e capacidades:
carroceria: minivan tipo “tall wagon”/5 portas
comprimento/largura/altura: 3.40/1.48/1.62m (interno: 1.94/1.28/1.28m)
entre-eixos: 2.36m
peso: 820 kg
relação peso/potência: 15.18 kg/cv
no. de passageiros: 4
tanque de combustível: 30 litros, gasolina comum
consumo médio: 22 km/l (dados de fábrica)
velocidade máxima: aprox. 125km/h
aceleração de 0 a 100 km/h: em torno de 25 seg.
Motor:
dianteiro, transversal, 3 cilindros em linha, DOHC 12V com VVT, 658cm³
Diâmetro e curso: 68.0mm×60.4mm
Taxa de compressão: 10.5
Potência: 54 cv (40kW)/6500rpm
Potência específica: 82 cv/litro
Torque: 6.4 kgfm (63 nm)/3500rpm
Câmbio:
automático de 4 marchas, tração dianteira
Direção:
assistência elétrica, 4.1m de diâmetro de curva
Suspensões:
Mac pherson (D), I.T.L – braço arrastado (T)
Freios:
disco sólido (D), tambor (T)
Pneus:
155/65R13 73S

Principais equipamentos de série:
Ar condicionado, direção com assistência elétrica, trio elétrico, ABS com brake assist, duplo airbag, vidros traseiros escurecidos (portas e tampa do porta-malas), banco do motorista e coluna de direção regulável em altura, limpador e lavador do vidro traseiro, bancos traseiros bi-partidos e reguláveis em distância, entre outros.
Preço: ¥ 1.058.400 ou R$ 21.300,00
fonte: NA

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